segunda-feira, 11 de abril de 2011

Fácil demais [Too easy] {Trop facile}

A vida não é tão difícil assim, sou eu que tenho a mania de complicá-la. Tenho o péssimo hábito de abandonar tudo àquilo que exige atenção, que exige esforço. Transformei o meu ego em um labirinto sem fim, sem cor, sem gente. O medo de estar vulnerável consome cada minuto da minha sanidade. Eu sei que eu proferi o primeiro “adeus”, mas você o retribuiu fácil demais, firme demais. E eu não tive mais, amor, como correr atrás.

Deveria ser um tanto mais difícil, falar sobre você agora, mas a dor tornou-se quase um afago, uma amiga de longa data que ao me visitar, prova que tudo o que eu sinto é prova crua de que um dia aquilo foi verdade. Tudo existiu você estava lá no seu posto inabalável, o seu cheiro pós-banho ainda criava morada nas paredes cinza. Mas eu não os cuidei como deveria, desisti fácil demais.

Não consegui aprender a tomar da vida aquilo que ela me empresta, nunca conseguir tomar de volta o que um dia deveria ser meu, eu acreditava que enquanto eu estivesse lutando para ter, outros já estariam muito perto de conseguir, sou fraca demais para ser trocada. Deve ter sido por isso que você foi sem mais olhar para trás, como se o que tivesse ficado não valesse mais a pena ser ao menos olhado de relance.

Alguns dos seus livros ainda ocupam a minha estante, e eu não me incomodo em tirá-los de lá, tenho de assumir a esperança que eu tenho de que um dia você voltará para buscá-los. Assim como eu, eles ficam lá na estante, com o cheiro familiar e até aconchegante do mofo. Para você foi fácil demais esquecer as historias lidas nos fins de tarde. Foi deu as costas meu bem, e só.

Quando eu corri, você já havia virado a esquina, e eu continuava de mãos vazias e olhos cheios, sem coragem para correr, e de te gritar para voltar. Você nem ao menos quis ouvir as minhas lamurias de perdão. Nem a minha antiga voz, aquela que te cantava ao amanhecer, antes dos pássaros ritmarem a minha letra.

Mas o que mais eu posso fazer meu bem? Se todas as minhas tentativas foram ignoradas por você, se todos os meus esforços de nada valeram? Admita que só procurasses um motivo para me deixar, e agora que você encontrou o que queria não serei eu que revogarei a sua vontade. É o fim, e nada mais.

Posso ser-te uma boa amiga, posso ouvir as suas dores, ou ser a causa dos teus risos, mas por pura vontade de estar perto. Eu jamais voltarei literalmente para os seus braços, não por conta própria, você teria de correr muito para um dia chegar a me acompanhar, cansei de esperar a sua volta parada no meio do caminho.

Então agora eu só sigo em frente acompanhada de algumas lembranças, e sinto dizer que poucas delas ainda incluem você. Mas as que o tem, não são de toda a maioria tristes, há partes intensas, reais, onde os risos ecoavam pelas paredes. Sempre tudo calmo, tudo simples, tudo certo, tudo meu, nosso. Tudo fácil demais.


Para você, apenas você.


Maria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário