quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Um tal de amor [Such a love]


Chovia lá fora, chovia muito por sinal. Daquelas chuvas que quando chegam não te deixam sair de casa e te fazem ficar bem encolhida debaixo do lençol. Era tudo o que eu precisava para sentir mais do teu cheiro de menta, de banho um cheiro de sono, que me deixava ainda mais entregue a preguiça que me acometia naquele dia. Era um dia tão comum que eu mal sentia a sua respiração pesada bem próxima ao meu ouvido, ela me incomodava tanto em outros dias. Hoje eu estava acompanhando o cair da água da chuva, eu observava o passar lento das nuvens pesadas. Hoje eu sabia que seria o dia de não falar. Hoje o dia seria do silêncio e eu não me incomodaria. Seria o meu dia de lembrar...

Sempre achei o amor uma coisa muito utópica, sem nexo ou razão para não chamá-lo de inexistente. Como pode alguém passar décadas da vida com outro alguém, dedicando-se e abrindo mão de sonhos tão individuais, tão íntimos? Para mim o amor não passava de uma baboseira tosca que havia sido inventada para dar um sentindo mais bonito para vida, as pessoas viviam em busca do amor. Tolice. Pensei
.
Os gregos antigos diziam que o amor era uma enfermidade e quando um misto de sentimentos chegou a mim, passei a compartilhar da mesma ideia deles. Quando nos conhecemos as coisas eram meio estranhas, eu era estranha e você me disse um dia que isso era um charme. Depois desta sua declaração passei a pensar que você poderia sofrer da mesma doença que estava me consumindo aos tantos, um tal de amor. Estou perdida.

Então o tempo começou a passar por nós, e nas noites silenciosas eu pensava em como eu estava mais dependente dos seus detalhes, em o quanto mais sensível eu estava, e quantos planos a mais eu fazia. Eu não me via mais passar anos com você, eu não mais limitava o nosso tempo. Para mim seria a vida e estaria bom, ou quase lá. Pensei em me desesperar afinal de contas eu me tornara no que eu sempre critiquei um ser apaixonado que brincava de falar “besteiras sentimentais” quando estava só com você no frio, na chuva. Eu era uma boba.

Um fato agravante da minha doença: passei a sentir pena daqueles que ainda não conheciam o amor, e torcer silenciosamente para que este chagasse logo para essas pessoas tão corretas, sem exageros, sem tolices e sem sorrisos ao léu. Pobres pessoas eu pensava. Vi-me 10 anos depois, ainda com você, 20, 30,40, e porque não 50 anos ao seu lado?

As coisas eram bem mais claras agora, vi que com o amor eu tinha o dom da clarividência e podia ver um futuro límpido, banhado por sorrisos e tardes tediosas de domingo ao seu lado, eu podia ver-me incomodada com aquela sua respiração um tanto pesada, podia ver crianças brincando nos fundos de uma casa e fazendo barulho que poderia estourar os ouvidos daqueles que mal sabiam o que era o amor, mas que para mim, alta conhecedora deste sentimento nada mais era que música. Era um futuro mais que agradável e eu me via ansiosa em vivê-lo.

Passando-se o tempo minha inteligência mais que enferrujada me fez entender que o amor não poderia ser uma enfermidade, ele seria a cura mais rara e mais eficaz sob as doenças da vida, o amor nada mais era do que a solução para os sonhos individuais, tornando-se sonhos realizados, feitos com alguém, cultivados com alguns e trazido por tantos. Com você eu vi que o tal de amor seria a cura para o meu egoísmo e o meu ceticismo. Com você, e ninguém mais. Como eu fui esperta em te beijar os lábios pela primeira vez. Pensei.

Para o casal que mais tem amor.

Maria.

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